“Atrás do trio elétrico só não vai quem já
morreu...” O ritmo fervescente entre a cabrocha que ensaiou o ano inteiro
esperando o carnaval chegar para desfilar e o trançado das pernas, que só mesmo
a dança do frevo é capaz de inspirar os foliões a fazerem do carnaval a festa
mais popular do nosso país.
(...)
Atenta e também tentada a dar os meus pulos, eu
ficava ali imaginando como seria se, de fato, aquela fantasia fosse eterna. Ou,
se seria possível viver festejando como naquele carnaval. Quanta ingenuidade,
não? A paz vence a guerra. Num ambiente de guerra, paz, por mais que seja
convidada, não encontrará espaço para cumprir o seu papel. Falta-lhe parceiros,
o número dos que querem não é suficiente. Mas, eu não precisaria estar me
exigindo com tantas reflexões, porque, afinal, o cantor já classificou o carnaval como a festa da fantasia. Porém,
hoje, eu tenho me questionado se, de fato, é uma fantasia ou uma realidade? Às
vezes as pessoas se escondem em sua própria vida e nas oportunidades se
liberam. A própria festa autoriza os foliões a serem o que queriam ser. Aí está
o perigo dessa época carnavalesca. Existe uma motivação explícita para que as
normas do bem comum sejam quebradas. Quem nunca ouviu as expressões: "no
carnaval vou soltar a franga"? Ou: "no carnaval a minha mulher me deu
um vale-nigth"? Ou: "Eu quero mais é beijar na boca!"? Longe de
qualquer julgamento, o que muitos foliões gostariam de viver fora dessa época e
não vivem? Ou que vivem, mas ninguém vê? Será a fantasia uma oportunidade para
fugir do real?
Para o distanciamento da realidade ou para sua
aproximação? Não acredito que quem não tenha tendência a se desfigurar no
carnaval vá assumir uma conduta que o leve a uma ressaca moral.
Por essa razão, o comportamento do folião
deveria ser um meio para levar e trazer para si alegria, encontro com os
amigos e familiares, enfim, à diversão. Ao contrário de épocas atrás, o pierrô
e a colombina foram substituídos pela exploração sexual de menores, tráfico de
drogas, manipulação da mídia, favorecendo ao governo e fazendo dos próprios
participantes uma propaganda para atrair turistas, além da prostituição,
adultério, violência, roubo, e interesses financeiros.
(...)
Real ou de fantasia, não sei mais, o que sei é
que tudo acaba na quarta-feira, em que se inicia a Quaresma, tempo de jejum e
oração para os católicos.
A testa marcada com as cinzas, caracterizando a
Paixão de Cristo. O Cristo que, sem julgamento, recebe o folião que pulou até o
último dia para continuar mostrando que aquela fantasia não é eterna e que
eterno é o que não acaba na quarta-feira, mas se inicia.
A Quarta-feira de Cinzas vem acompanhada da
Sexta-Feira da Paixão, dias que a tradição não aconselha comer carne, nem
satisfazê-la. Portanto, chegou a hora de decidirmos por um carnaval que não
precise acabar na quarta-feira... Meus amigos, então não é o carnaval que dará
sentido ao que buscamos, mas justamente Aquele que é Eterno.
Judinara Braz