quarta-feira, 2 de abril de 2014

O que é e o que não é santidade, por Hubert von Zeller - Parte 1

Mais do que mirabolantes façanhas místicas ou heroísmos de faquir, a santidade consiste numa correspondência de amor. Trata-se de descobrir a presença de Deus em tudo, dando-lhe glória através das mais corriqueiras realidades do dia a dia




Se alguém pensa que santidade pessoal significa ter o nome no topo de um ranking, está enganado. Se pensa que é algo que dá direito a ter uma data comemorativa no calendário da Igreja, está enganado. Se pensa que é algo que traz consigo o poder de fazer milagres, está enganado. Se pensa que é ter o olhar embevecido, num estado de piedoso contentamento (ou de doce êxtase, ou de nobre e virtuosa distração), está enganado. Santidade não tem nada a ver com estar acima dos outros, como que pairando sobre eles.

O melhor é pensar na santidade como a atitude de quem, sendo generoso e fiel à graça, devolve a Deus o amor que Ele lhe depositou na alma. Por isso, se podemos querer ser santos, é mais por causa de Deus do que por iniciativa própria. Não buscamos a santidade por sermos ambiciosos nem por querermos subir numa espécie de carreira fantástica, mas porque Deus quer-nos santos e nós o louvamos quando lutamos para alcançar a santidade.

Qualquer um pode ser santo – ou melhor, fingir que é santo – e ouvir elogios das pessoas: “Nossa, como você é um santo”. Cedo ou tarde, porém, essa santidade acaba dando em nada. Ou a pessoa percebe a armadilha em que caiu, faz-se humilde, e tenta encaminhar-se para uma santidade real, ou então o esforço por manter as aparências torna-se insustentável, provocando uma reação que a faz voltar-se para o mundanismo e talvez até para um estado final de maldade. Todo o segredo da santidade está em que ela depende da graça e por isso nunca pode ser considerada um simples papel a representar.


Isso significa que mesmo que você esteja decidido a ser santo, não o será se confiar só na sua força de vontade. A única coisa que pode levá-lo à santidade é a graça de Deus. Você precisará de toda a sua força de vontade para trabalhar junto com a graça de Deus, mas não imagine que para chegar ao final do caminho basta tomar umas resoluções suficientemente firmes. Deus permitirá que você falhe em cumprir alguns dos seus melhores propósitos antes mesmo de começar a caminhada, para que você se ponha no seu devido lugar e veja que nada pode fazer sem Ele.

Estando humildemente convencido de que sozinho não se pode cumprir nem mesmo aquilo que mais se quer, você estará então pronto para ser um instrumento de Deus. Primeiro você vai ser amaciado como um bife. Quando toda a altivez, todo o orgulho e todas as idealizações da santidade tiverem sido arrancados pela ação da verdade, e você tiver os pés no chão, Deus terá matéria com que trabalhar. Sem falsas noções e sem projetos fantasiosos, você começa a perceber o que é a verdadeira santidade e quais são os planos que Deus tem em mente a seu respeito.

A razão disso é que Deus não está premiando o trabalho de outrem, mas o dEle próprio. Não se pode esperar que Ele reconheça uma santidade para a qual não tenha contribuído. A única perfeição, a única santidade é a de Deus. Deus permite que o homem invente a sua própria idéia de santidade. Mas Deus não o ajuda a realizá-la simplesmente porque ela não existe; é uma perda de tempo. É como procurar a luz do luar numa noite sem Lua. Quando você percebe que a luz do luar emana de um determinado lugar, e que só existe nele, já terá aprendido alguma coisa.







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