A música é uma só e, sem dúvida, há muitas formas distintas de tocá-las. Da mesma forma, também há formas distintas de se amar. A música, por exemplo, pode ser cantada em coro. Nossa voz se une com outras vozes. Assim é mais fácil seguir a melodia e não perder o tom. Quando cantamos em coro, nos unimos em um mesmo ritmo, nos contagiamos pela paixão pela mesma música, nos atraímos ao mesmo mistério. Pois bem, cantar em coro se parece com um tipo de amor: a amizade. Cada amor se distingue pelos bens que são compartilhados nele: os amigos se unem em um ideal comum, uma visão comum, uma obra comum. Por isso, os amigos querem o mesmo e rejeitam o mesmo, começam a ver-se a si mesmo no outro, como aqueles que cantam em coro estão unidos em uma mesma paixão e em uma comum melodia.
Há outro tipo de música: um dueto de instrumentos que dialogam entre si, cada um colocando uma parte da peça, de modo que entre eles haja harmonia e beleza. Parece-se com o amor de matrimônio, entre homem e mulher. Aqui também estão os dois unidos pelo mesmo amor a música, mas agora cada um desempenha um papel distinto, e os dois se complementam, se inspiram, tiram o melhor do outro em suas diferenças. Sem o outro não poderiam tocar a partitura, que ficaria incompleta, cheia de silêncios.
Que bens compartilha este amor? Trata-se de uma união na intimidade, além disso, é a formação de uma intimidade comum, que se abre a transmissão da vida. Por isso o amor é exclusivo do casal: abrir a um terceiro é infidelidade.
Por último, podemos pensar em outro tipo de música, a de uma orquestra. Um único diretor reparte a cada músico um papel e sua entrada, convertendo o som de todos em um único movimento de ritmo e harmonia. Esta música se parece a outro tipo de amor, ao amor filial, que cada homem e cada mulher recebem de seus pais e de Deus Criador. Este é o amor primeiro, de onde bebe o amor dos amigos e dos esposos, a fonte de todos os tipos de música.
João Paulo II
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